sexta-feira, 25 de julho de 2014

Conto - O Gênio da favela


  Nossa história começa no Rio de Janeiro, em alguma favela carioca. Num dia comum como outro qualquer. Alguns cidadãos, descobrem uma garrafa magica em um terreno baldio. Onde os mais velhos supersticiosos, diziam haver um gênio. Parecido com o da história do Aladdin. 
Esta garrafa era na verdade uma garrafa de cachaça, um tanto antiga. Suja e aparentemente vazia. 

Ansiosos eles a esfregam freneticamente. Alimentados pela vontade de finalmente terem seus sonhos realizados. Alguns diziam:

- Agora finalmente minha vida vai mudar!

 Outros indagavam:

- Será que esse gênio é algum pai de santo?
- Lógico que não imbecil. Como um pai de santo iria caber em uma garrafa dessas?

   A multidão já começava a se aglomerar em volta da tala garrafa.  Eles esfregavam, cutucavam, assopravam e até faziam carinho. Quando estavam descrentes e quase desistindo, um cheiro forte da bebida exalou em meio a uma imensa fumaça. O cheiro não vinha da garrafa e sim da boca do gênio alcoólatra. E a Fumaça,  não era um símbolo mítico da aparição da figura magica, e sim o resultado de um monte de esbaforidas mal cheirosas de um charuto que mais parecia fumaça dos carros antidengue.

- Mas que cheiro é esse? Parece que morreu alguém!

Comentou um dos pedintes.

   Quando a fumaça diminuiu, veio a surpresa. O Gênio não era um homem alto, musculoso e com aquela voz grave e imponente como nas histórias do Aladdin. Muito menos apareceu dizendo três pedidos. 

No lugar do gênio mítico, surge um senhor baixinho, mulato, com uma "barrigudinha de cerveja" e bêbado. 
Com a voz meio embargada e em meio a soluços, o gênio disse:

- Alguém sabe onde consigo mais dessa cachaça? Ja tá no "firnazin". 

Perplexos e irritados, os pedintes indagavam:

- Mas que raio de gênio bêbado é esse? 

- Esse aí já está pra lá de Bagdá!

- Gênio Cachaceiro!

- Não me chame e cachaaaa- ceiro não dona, porque eu tenho nome. - Retrucou o gênio.

- Você não é o gênio da lâmpada? Temos uns pedidos!

- Ahhh... A velha história dos- up-  pedidos. Achei que essa moda já tinha passado. 

Irritados, os moradores se aglumeravam e ameaçavam iniciar um linchamento do pobre gênio. 

- Lhes concedo um pedido. Apenas um pedido para todos. Afinal minha missão neste mundo é dar alegria. E troca, vocês me arrumam uma cachacinha.  Digam logo, o que vocês querem?

Com unanimidade os pobres favelados disseram quase em coro:

- Dinheiro! Muito dinheiro!

E num estalo, muitas, e muitas notas de 50$, 100$ apareceram. Foi uma pega daqui, pega de lá. Vizinhos se esbofeteando. Carros que passavam por perto paravam seu veículos pra pegar um pouco do dinheiro que não parava de aparecer. A noticia se espalhou rápido. Em poucos minutos, toda a favela estava aos tapas, na disputa pelo dinheiro. 

Zunidos dos camburões da policia anunciaram a sua chegada. Pronto! Pretos, pobres e muito dinheiro junto, O que se faz??

- Mete o cassete nesses favelados. 
    
A policia como boa perita no famoso "Bate primeiro, pergunta depois", distribuíam murros, cassetadas, tiros pro alto, enquanto catavam um pouco do dinheiro que restava no chão.
Depois do corre corre, a pergunta.

-De onde veio todo esse dinheiro?

Alguém disse:

- Foi aquele cara que dizem que ser o gênio!

 Tadinho do gênio! E lá se foi ele preso e algemado por desordem, roubo, desacato, pilantragem, vadiagem, e tudo quanto conseguissem empurrar no pobre diabo. 

- Você vai ter que se explicar  muito o bebum. - Disse um dos policiais!

 O gênio arrependido de ter saído da tal garrafa, ia dizendo:

- Mas porque tudo isso? eu só queria beber uma cachacinha, e dar um pouco de felicidade a esse povo tão carente.
    
Eis que o policial argumentou:


- Que felicidade o que seu bebum?!! E onde  já se viu favelado feliz?




By Jonathan Ferr

Nenhum comentário: